Leilões serão de abrangência municipal e regional e terão investimentos estimados de R$ 72,4 bilhões
Por Luiz Guilherme Gerbelli e Renée Pereira
Em 2025, as empresas do setor de saneamento devem disputar 23 projetos. Os leilões serão de abrangência municipal e regional e têm investimentos estimados de R$72,4 bilhões. O levantamento é da Abcon Sindcon, a associação das empresas privadas. De acordo com a entidade, os maiores projetos em investimento são de Pernambuco (R$24,799 bilhões) e do Pará (R$18,5 bilhões). Veja a lista completa ao fim da reportagem.
“Tem um conjunto grande de coisas (para acontecer)”, afirma Rogério Tavares, vice-presidente de relações institucionais da Aegea. “O BNDES é o grande agente desse processo, porque as principais modelagens que já ocorreram foram desenvolvidas lá. Tem uma carteira grande de processos em andamento.”
A Aegea foi a vencedora do último leilão de saneamento realizado no País, no fim do mês passado. A companhia venceu a concessão para atender todas as cidades do Piauí, excluindo a capital Teresina e Landri Sales. A concessão é de 35 anos, e o investimento previsto de R$ 8,6 bilhões. Com mais esse leilão, o Brasil já tem 30% dos municípios com serviços de água e esgoto transferidos para a iniciativa privada.
Em leilão realizado na B3, Aegea venceu último leilão de saneamento no País Em leilão realizado na B3, Aegea venceu último leilão de saneamento no País Foto: Cauê Diniz/ B3/Divulgação A Aegea tem sido uma das empresas mais competitivas na disputa pelo serviço de saneamento no País. Foi a vencedora dos blocos 1 e 4 da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) em 2021 e adquiriu a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) no fim de 2022.
A empresa tem como acionistas o grupo Equipav, o fundo soberano de Cingapura (GIC) e a Itausa. Hoje atende mais de 31 milhões de pessoas em mais de 500 cidades de 15 Estados brasileiros. Após arrematar a Cedae em 2021, tornou-se a maior companhia privada do setor em termos de população atendida.
Na avaliação do advogado Rodrigo de Pinho Bertoccelli, presidente do Centro de Estudos em Integridade e Desenvolvimento (Ceid), os leilões de 2025 vão atrair investidores, mas é provável que os principais interessados sejam aqueles que atuam no setor e participaram dos últimos leilões. “A experiência acumulada e a infraestrutura existente conferem uma vantagem significativa a esses players em relação aos novos entrantes.”
Bertoccelli afirma, no entanto, que em mercados menores, como licitações municipais, há novas empresas se associando com outras “detentoras de acervo técnico”, ou seja, que tem experiência operacional, para formar consórcios e, assim, participar das disputas.” Para ele, a expectativa é que novas parcerias surjam no próximo ano para levantar recursos e traçar estratégias inovadoras para grandes investimentos.
“Em termos de financiamento, equity é estratégico no pagamento das outorgas, enquanto a capacidade de estruturar o financiamento é essencial para o sucesso desses projetos. Em um cenário de alta de juros, alternativas como debêntures, bancos de fomento, entre outras, um parceiro financeiro se torna ainda mais protagonista nesses projetos.”
Além disso, completa ele, novos fundos de investimento têm demonstrado interesse no setor de saneamento, o que pode diversificar ainda mais o cenário competitivo. Esses fundos podem trazer novos recursos e práticas, aumentando a capacidade de financiamento e implementação de projetos.
A modernização das regras do setor de saneamento básico colocou empresas como Aegea, Iguá Saneamento e BRK em um novo patamar. Mas recentemente elas ganharam concorrentes. Empresas que nunca atuaram no setor passaram a se interessar pelos projetos, como é o caso da empresa de energia Equatorial. A empresa adquiriu 15% da Sabesp, maior companhia de saneamento do Brasil, por R$6,9 bilhões. A transação faz parte do processo de privatização da empresa do Estado de São Paulo.
Outros nomes como as espanholas Acciona e Sacyr e a gestora Pátria também têm marcado presença nos últimos leilões. “Há várias empresas querendo entrar no setor. Afinal, para cumprir as metas de universalização serão necessários investimentos superiores a R$700 bilhões. Para mim, diante da carência no setor, esse valor supera R$1 trilhão”, diz o sócio da BF Capital, Renato Sucupira.
Publicado originalmente no Estadão